Os direitos sempre estão sendo tirados. O pecador que, após sua morte, acordar na dimensão eterna aonde são punidos os corruptos não vai ter certeza que direitos ainda lhe restam. A única constante é que ele vai ter cada vez menos.
Seus filhos também sempre morrem. Mais filhos o substituem e morrem de inanição e diarreia, como os anteriores. Outros tornam a nascer. Todo o círculo é um esgoto à céu aberto, aonde nenhuma criança poderia possivelmente vingar. O plano de fundo são os arranha-céus luxuosos dos demônios residentes.
Não há descanso. O pecador acorda às três da manhã para trabalhar e volta para sua casa às dez da noite para assistir o programa eleitoral. Os candidatos sempre são Baal e Baphomet, mas, por diversão, eles mudam sua aparência e revelam sua identidade só após eleitos. Às vezes, se entediam e deixam para lá esse negócio de votação.
O pecador se pergunta quando vai poder parar de trabalhar. Quando chega no ano de sua aposentadoria, a idade mínima é acrescida de cinco mil anos. Ele pega a enxada mais uma vez, mas se chove na sua plantação, é para causar uma inundação que destrói tudo e derruba seu casebre. As políticas ambientais do governo atual deixam a desejar.
Ele então desiste da agricultura e vai limpar o chão dos edifícios aonde moram os demônios. O chão nunca está limpo. O casebre nos arredores da cidade é derrubado por um deslizamento de terra.
Com isso, o pecador decide voltar para o plantio. Promete votar certo na próxima eleição, sem saber que só poderá votar ou em Baal ou em Baphomet. Qualquer coisa diferente é vetada pelos demônios mais importantes.
E seus direitos vão sendo tirados.
Nota da autora: Acabei não revisando esse textinho para não perder o ritmo das postagens, e fiz o melhor que pude fazer só. Mas coisas boas vem aí! Estou no processo de revisão do prólogo do meu romance, que foi intitulado “Implosão”, e ele será postado aqui. Além dos posts que eu planejei para outubro, é capaz que saia uma palhinha do projeto ao qual estou me dedicando agora, que apesar de não ser ficção científica nem fantasia, na minha opinião está muito bom e eu quero muito compartilhá-lo.