Frankenstein e As Teorias Datadas da Ciência

Há alguns meses atrás, li Frankenstein, de Mary Shelley, em minha saga de ler os clássicos da ficção científica. A maioria dos que leram esse livro devem saber que ela se inspirou no galvanismo, teoria da época que originou a eletrofisiologia. As utilizações das descobertas de Galvani foram extrapoladas para a ressuscitação de cadáveres usando eletricidade, e foi essa extrapolação fora do comum que Shelley usou como ponto central de sua trama.

A história das ciências – assim como o presente – está cheia de teorias similares. Algumas erradas por completo, outras nem tanto, mas todas possuem implicações no mínimo peculiares. Assim como Shelley, lanço mão dessas peculiaridades científicas como fonte de inspiração. Portanto, decidi compilar algumas das minhas teorias preferidas até essa data. 

Alquimia

Embora o foco da minha lista sejam teorias menos conhecidas, a alquimia aparece aqui, pois, além de ter sido muito influente na minha área de conhecimento, grande parte de sua história tende a ser desconhecida. A primeira alquimista conhecida, Maria, a Judia, viveu no Egito no período em que estava sob o domínio romano. Os trabalhos encontrados da época possuem pouco conteúdo místico e abordam principalmente a metalurgia.

Um pouco depois, no século VIII, a alquimia estava bastante difundida no mundo islâmico. Uma figura notória é Jabir, considerado por alguns como o pai da química devido aos seus metódicos experimentos. Entretanto, até mesmo ele julgava ser capaz de criar vida artificial (embora não se saiba ao certo se tais trechos em seus escritos podem ser interpretados literalmente).

Similarmente, alquimistas indianos buscaram criar um corpo divino, ou, então, tornar imortal o corpo humano.

Vitalismo

Vitalismo era a crença de que os organismos vivos se diferenciam dos demais objetos inanimados pela presença da chamada força vital. A separação entre elementos orgânicos e inorgânicos não era bem clara na época, e essa força vital foi a maneira que cientistas e pensadores encontraram para explicar o fenômeno da vida a nível macroscópico. Assumindo um caráter mais filosófico do que propriamente científico, o vitalismo acabou sendo descreditado pelo avanço da bioquímica e por assuntos afins que explicam os processos químicos que chamamos de vida.

Essa noção permeia várias culturas e está presente em muitas obras da literatura fantástica (mesmo de maneira não intencional). Entretanto, ainda não cheguei a ler uma história à la Mary Shelley, baseando-se nisso.

O Planeta Vulcano

Sim, o nome soa familiar. Vulcano foi o nome dado à um planetinha hipotético, imaginado por Urbain Le Verrier como a razão das discrepâncias existentes na órbita de Mercúrio. Segundo ele, o planeta existiria entre a órbita de Mercúrio e o Sol. Verrier chegou a conseguir calcular o raio da órbita e o período de evolução do planeta.

Einstein, no entanto, explicou de outra maneira a diferença observada entre o previsto e o real para a órbita de Mercúrio, e a procura pelo tal planeta diminuiu, até o ponto de se supor que ele não existe. Será?

Máquinas de Movimento Perpétuo

Uma máquina de movimento perpétuo seria capaz de manter algum tipo de movimento fluindo sem a necessidade de uma fonte de energia externa. Elas são divididas em três categorias: as máquinas que produzem trabalho sem fonte de energia; as que convertem calor em trabalho mecânico de maneira espontânea; e as que permitem a propagação eterna do movimento devido à inexistência de atrito e demais forças capazes de dissipar o movimento.

Tais máquinas são consideradas impossíveis de acordo com as vigentes leis da termodinâmica. Para os escritores de ficção científica de plantão, a palavra-chave da frase anterior é “vigentes”. Do ponto de vista matemático e teórico, essas leis são bem postas, mas continuarão assim daqui a alguns séculos?

Elementos Que Não Existem (Mais)

Durante o avanço da química enquanto ciência, muitos elementos existentes eram desconhecidos, ao passo em que outros elementos conhecidos tiveram sua existência refutada posteriormente. Entre eles, podemos citar o calórico, um fluido que foi usado para explicar a temperatura e seus processos de transferência e o éter, meio no qual a luz se propagava (antes de descobrirem que a luz se propaga no vácuo).

Esfera Sublunar

Utilizando como base o modelo geocêntrico do cosmos e a astronomia aristotélica, alguns pensadores, incluindo Platão e Aristóteles, postularam que apenas dentro desse local chamado de “esfera sublunar” ocorriam mudanças. Em outras palavras, tudo o que existia da Lua em diante era imutável, apenas um cenário impassível à criação e à destruição. E o que seria das viagens espaciais se o espaço fosse estático? 

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