Binti e As Novas Fronteiras da Ficção Científica

No finalzinho do mês passado, em minha quest atrás de livros mais diversos para ler, esbarrei em Binti, de Nnedi Okorafor, novela de ficção científica publicada pela Tor em setembro de 2015. Não foi traduzida para o português, mas a edição original (inglês, formato e-book) pode ser obtida na Amazon.

Capa da novela “Binti”

Começo pelas minhas poucas ressalvas em relação à obra. O comprimento de novela retirou do texto parte do impacto emocional, pois obrigou a narrativa a passar por cima de eventos que, se narrados com maiores detalhes, poderiam ter enriquecido a experiência; assim como deixou de explicar alguns pontos rápidos de worldbuilding que esclareceriam mais o cenário onde a história se passa.

Fora isso, Binti é fantástico. Muitas histórias de ficção científica, em especial as mais mainstream, giram ao redor de temas bélicos. Guerras, armas e morte estão presentes, mas a novela é sobre diplomacia e a construção dela, contada do ponto de vista de uma garota de 16 anos da tribo Himba.

Se a narrativa economiza palavras em alguns aspectos, não deixa passar batido o ostracismo sofrido pela protagonista, tanto em casa quanto fora dela, por ter decidido sair de sua terra, seu planeta natal para ir à Universidade. Um outro aspecto interessante é a importância do entendimento do outro, do diferente.

Binti é um tapa na cara dos clichês e na falta de diversidade não só étnica, mas também cultural na ficção científica. Muitas obras levantam questões relevantes e subversivas, entretanto ainda se voltam por demais para a cultura ocidental e suas questões, alheias à raça, gênero, classe, orientação sexual e outras culturas existentes.

Recentemente eu li também Fahrenheit 451, por exemplo. Um livro belíssimo, mas que cai no problema citado acima. É uma questão ocidental, tratada do ponto de vista de um homem que não é segregado de nenhuma maneira, inserido em uma cultura não diferente da cultura ocidental e colonialista em que vivemos. Quantos livros mais foram escritos dessa maneira?

Inovar e levantar problemáticas dentro dessas fronteiras está ficando cada vez mais difícil, enquanto que inúmeros dilemas existem fora desses círculos, esperando para serem discutidos. Nnedi viu a oportunidade e a agarrou com força em sua novela Binti.

Fonte da imagem destacada.

Nota da autora: Estou planejando fazer um post bem detalhado sobre obras e o movimento afrofuturista em breve. Mas, para isso, preciso ler, compilar uma listinha de sugestões (sendo que essa foi a primeira obra de ficção afrofuturista que li) e acabei deixando o tema de lado nesse post. 

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