Fifth Season – Há Coisas Novas Sob o Sol

Quando se trata de escrita criativa, qualquer escritor um pouco mais lido na parte teórica dessa arte deve ter se deparado com a famigerada Jornada do Herói. Essa jornada é tão comum e claramente delimitada aos meus gêneros prediletos – fantasia e ficção científica, para quem ainda não leu o memorando – que por vezes eu me vejo frustrada, pensando ser impossível escapar desse tipo de narrativa.

Fifth Season, da N. K. Jemisin, publicado em 2015 pela Editora Orbit Books, disponível em livro físico e digital em inglês para venda no Brasil, me mostrou que, sim, há coisas novas sob o sol, tanto em questão de worldbuilding, quanto de narrativa e construção de personagem.

Algumas questões não respondidas na parte de worldbuilding deixam em aberto se Fifth Season é fantasia ou ficção científica, no fim das contas; e não ter as respostas não importou, pois aquelas questões eram irrelevantes para a narrativa e também impossíveis de serem respondidas da maneira como a história foi construída.

Na obra, existem cinco estações principais: verão, outono, inverno, primavera e morte. A quinta estação se refere aos regulares cataclismos geológicos que levam a humanidade ao limite da extinção. Sanze, um império gigante, conseguiu sobreviver a muitas dessas estações graças às ruínas das civilizações extintas e estratégias passadas de geração em geração.

É numa Quinta Estação de proporções maiores que as anteriores dentro desse império, que acompanhamos três personagens orogenes. Orogenes são pessoas capazes de manipular elementos geológicos – a um preço. Seus poderes são difíceis de controlar e precisam de uma absorção de energia que pode ser fatal. Por isso, são controlados desde o nascimento e vistos com desdém e ódio pela população de Sanze.

Damaya é uma jovem orogene (rogga, como perjorativo) que é levada de sua casa para o Fulcrum, onde os orogenes são treinados e controlados. Temos também Syonite, uma orogene adulta que é incumbida de uma missão desagradável em nome do Fulcrum, e por último, Essun, uma rogga mais madura que conseguiu se manter incógnita em uma comunidade – até que não conseguiu mais.

E assim a história segue, alternando entre os três pontos de vista, mostrando ao leitor uma visão ampla, porém compreensivelmente incompleta de Sanze e do Fulcrum. Um elemento é comum entre elas: a desumanização dos orogenes. Fifth Season é um romance que trata do que é ser desumano aos olhos dos outros, tudo isso inserido em um universo único, contado em uma narrativa construída de maneira a pegar até os leitores mais experientes de surpresa.

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