As Águas-Vivas Não Sabem de Si – Explorando Pontos de Vista

As Águas-Vivas Não Sabem de Si é um romance escrito por Aline Valek, e publicado pela Fantástica Rocco, em 2016. A história gira ao redor de Corina, uma mergulhadora profissional acometida por uma doença incurável, que embarca em uma missão numa estação de pesquisa no fundo do mar.

Com um quê de fantasia, outro tanto de ficção científica e uma pitada de surrealismo, o romance nos guia, na verdade, por várias histórias. De Corina e do pesquisador Dr. Martin, das baleias, espectros, azúlis e águas-vivas, das águas do oceano, de tempos passados há eras e do tempo presente, tudo isso amarrado em um enredo coerente e intrigante.

Como dá para notar pela descrição acima, Aline Valek se aventura e é bem-sucedida ao escrever em pontos de vista no mínimo pouco ortodoxos. Poucos escritores escrevem sobre o que pensam as águas do oceano ou um ser ancestral à beira da extinção.

Toda obra, porém, tem o seu ponto fraco, e é essa mesma abundância em pontos de vista que fazem a narrativa sair em tangentes expositivas, mostrando o talento e a criatividade da autora, mas sem adicionar nada de concreto ao enredo ou à construção das personagens. Por mais bem escrito que o livro seja, essas tangentes tornaram a minha leitura mais difícil, pois não consegui perceber um foco claro, nem mesmo em retrocesso. Tive a sensação que estava indo a lugar nenhum, e não de uma boa maneira, o que inclusive estaria de acordo com o enredo.

A estrela do romance é descobrir sobre o que é a pesquisa misteriosa do Dr. Martin, e se ele será, enfim, bem-sucedido em encontrar o que tanto procura, se suas teorias têm algum fundamento. Vamos descobrindo isso aos pouquinhos, em doses homeopáticas, enquanto o drama das relações humanas em um espaço enclausurado se desenrola.

Vemos em As Águas-Vivas Não Sabem de Si uma obra baseada em extensiva pesquisa, cuidado e criatividade, uma narrativa pesada e existencial, digna de uma atenciosa leitura.

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