Androcentrismo em FC – Um Problema Além do Gênero

No mês de setembro, estreou na Netflix a primeira temporada da série Star Trek: Discovery, tendo como protagonista a Primeira-Oficial Michael Burnham, uma mulher negra. A décima terceira Doctor é uma mulher. Nesses últimos anos também saíram outras obras de não-ficção como As Cientistas, livro ilustrado contendo biografias de 50 cientistas que mudaram o mundo com suas descobertas, e também Estrelas Além do Tempo, que narra as vidas das mulheres negras utilizadas como computadores pela NASA.

E o que uma coisa tem a ver com a outra?

O androcentrismo branco e hétero não é um problema apenas da ficção especulativa; a resolução dessa questão não se encontra apenas dentro deste gênero.

Focando um pouco mais na minha área de conhecimento, as ciências exatas, dentre os nomes dos grandes cientistas que aprendi durante o ensino infantil e fundamental, todos eles eram de homens brancos.

Ao ler livros de história das ciências, pouco ouvi falar de figuras como Ada Lovelace, mãe da programação, ou Marie Curie (embora esta tenha sido mais mencionada no meu curso superior, que, apesar de ser das ciências exatas, tem proporção igualitária de homens e mulheres), tão fundamentais para o desenvolvimento tecnológico como Einstein, Nikolas Tesla, e outros nomes notórios.

Mesmo eu, sendo negra, acabei associando inventores, gênios e cientistas à figura do homem padrão. E não se resumia só à essa área: as pessoas realizadoras de importante façanhas das quais eu tinha conhecimento, todas, eram homens brancos e presumidamente héteros. As histórias de personalidades femininas, de cor e LGBT ficavam à margem, esquecidas.

Essa associação que todos somos levados a fazer sangra para a ficção. Assim, quebrar essa ideia é fundamental para quem deseja criar conteúdo com maior diversidade.

Embora consumir mídia representativa ajude também, é bastante importante entender que, mesmo na vida real, mulheres, pessoas de cor e pessoas LGBT fizeram descobertas, foram influentes na política, escreveram obras primas. É muito mais fácil incluir outros tipos de personagens na sua ficção, se, no seu mundo, eles existem também. Não só como vítimas dos vários sistemas de opressão atuantes, mas pessoas capazes, que contribuem com a sociedade de maneira significativa.

Informar-se sobre inventores, gênios, artistas e figuras políticas e históricas, é, portanto, uma etapa fundamental no processo de incluir maior diversidade. E por onde começar?

As Cientistas

Capa do livro “As Cientistas”

As Cientistas, publicado esse ano pela Editora Blucher e escrito por Rachel Ignotofsky, como já dito neste post, aborda brevemente a vida de 50 cientistas importantes e, em geral, apagadas de relatos históricos. Considero essa uma leitura, além de agradável, muito importante, pois vemos que a inteligência é uma característica não só masculina, e várias mulheres, com estilos de vida e interesses diferentes, tiveram capacidade de revolucionar as ciências, sendo mães ou não, casadas ou não, de etnias e nacionalidades diversas.

Heroínas Negras Brasileiras em 15 Cordéis

Capa do livro “Heroínas Negras Brasileiras”

Jarrid Arraes, em seu livro lançado pela Pólen Livros, reconta histórias de 15 mulheres negras importantes para a história brasileira. Jarrid é cearense, e para honrar a cultura de sua terra natal, narrou esses relatos na forma de cordel. Ela tem um site, e seu livro encontra-se à venda no site da editora.

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