A Trilogia “The Broken Earth” – Uma Fábula Sobre Segregação

Os três exemplares da trilogia

A trilogia “The Broken Earth” foi escrita por N.K. Jemisin, e ganhou ao todo dois prêmios Hugo: em 2016, por seu primeiro livro, The Fifth Season (A Quinta Estação, lançado no Brasil pela Editora Morro Branco), e, em 2017, por The Obelisk Gate, o segundo. O terceiro, The Stone Sky, foi lançado, em inglês, mais cedo esse ano, talvez rumo ao terceiro Hugo consecutivo.

E, apressada que eu sou, já terminei de ler os três (adquiri a versão física dos exemplares em inglês pela Amazon), e venho aqui contar se vale a pena adquirir. Para tirar isso do caminho: vale sim. Segue, em anexo, os motivos.

O que mais me chamou a atenção dessa trilogia é a estrutura narrativa. Jemisin conseguiu misturar com maestria todos os tipos de ponto de vista, em primeira, segunda e terceira pessoa, criando assim uma maneira única de se contar uma história. Fifth Season é especialmente inovador nessa área, e falo mais sobre ele aqui.

O segundo ponto é todo o universo fantástico construído por ela para ambientar uma história sobre desumanização. Sanze é uma civilização erguida sobre os esqueletos de várias civilizações passadas, vítimas de outras Quintas Estações, eventos geológicos cataclísmicos; no primeiro livro isso não fica tão claro, mas depois descobrimos de maneira evidente que Sanze ocorre muitos milênios depois da nossa civilização.

A tecnologia dessas civilizações passadas não é tecnicista como é comum de se ver na ficção científica, tem várias pitadas de biotecnologia e uma de fantasia, criando assim eventos, pessoas, coisas, que andam na fina linha entre fantasia e FC.

A N.K. Jemisin, essa linda.

Outra coisa que me interessou foi a cultura criada ao redor dos orogenes, pessoas capazes de controlar, por assim dizer, os elementos geológicos; por serem poderosos, em mesmo nível úteis e perigosos, são usados como ferramentas. Jemisin é bem crua ao mostrar, durante toda a trilogia, o quão longe se vai quando se desumaniza o outro, tanto da parte de quem desumaniza, quanto de quem é desumanizado.

Temos também uma forte analogia feita ao capitalismo. Na Terra de Jemisin, não há superabundância sem que alguém esteja sendo explorado, e a decisão de quem será explorado descansa sobre quem é menos que ser humano. E na Terra em que vivemos… Também.

E todos esses temas são abordados de maneira inteligente e sutil, através de uma história protagonizada por uma orogene, mostrando todas as suas alegrias, dores e privações.

Não acabou por aí: a escrita de Jemisin de quebra é bastante representativa. Questões LGBT dentro de Sanze são discutidas na trama, sem ser forçado ou fetichista.

A leitura da trilogia The Broken Earth foi, de longe, uma das melhores leituras da minha vida, e se tornou uma das minhas grandes inspirações enquanto escritora. Se eu puder escrever com um décimo da habilidade com que a N.K. Jemisin escreve, vou me sentir realizada.

Em suma, é uma excelente leitura, e espero que daqui a algumas décadas eu veja essa trilogia se tornando um clássico da ficção científica, porque será um status muito bem merecido.

 

Fonte do header: https://www.youtube.com/watch?v=qA8D8e34LZc

Fonte da imagem da autora: https://www.socialnews.xyz/2017/08/11/hugo-award-for-best-novel-2017-given-to-n-k-jemisin/

Nota da autora: Comemorando as 500 curtidas na page, tá rolando sorteio lá no Instagram. Vocês já participaram?

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