Atlas Ageográfico – O Mundo Imaginado de Ana Cristina Rodrigues

Ana Cristina Rodrigues é uma das escritoras nacionais que acompanho há tempos pelo Facebook. Colaboradora da Aquário Editorial e autora independente, ela é uma das minhas presenças virtuais preferidas e eu tive o prazer de ter acesso ao seu primeiro romance, Atlas Ageográfico de Lugares Imaginados, em uma leitura antecipada.

Representação artística da infância de Íbis rs

Caí de paraquedas em seu mundo ficcional – pois esta é primeira obra da Ana Cristina que eu leio, shame on me – e, sobre Atlas, só posso dizer que amei a queda.

Falando sobre a obra em si, Atlas Ageográfico de Lugares Imaginados é um romance de fantasia com uma boa dose de ficção científica. O enredo gira em torno de uma travessia pelo Deserto das Negações. Neste deserto, um ponto adimensional no espaço, um homem-morcego, Íbis, um general da caída cidade de Shangri-lá, um homem de lata, o Rei-Máquina de um exército de autômatos decadentes, e uma humana, Clio, nascida numa gigante biblioteca-cidade chamada Biblos, devem enfrentar diversas provações, contra si mesmos e suas memórias, e também contra divindades vingativas.

Ah, e um cavalo, o membro mais inteligente do grupo.

Posta dessa forma, a história parece ser um tanto quanto sem nexo. Eu, que nunca tinha lido nada sobre Atlas, me senti confusa durante o início do livro. O sentido da história surge aos poucos, com uma informação aqui, outra ali. A qualidade da escrita da autora faz toda a diferença nessa hora: a princípio, não dá para ver a figura que o quebra-cabeça forma, mas a trama nos incita a querer saber onde tudo isso vai parar.

Os três protagonistas e suas histórias são o ponto forte de Atlas Ageográfico. Parece impossível conseguir se relacionar com um homem-morcego que antes era soldado numa cidade de bestas, um autômato prepotente, e uma mulher sem memória alguma de si. Eles são, entretanto, mais do que parecem e julgam ser à primeira vista, e logo conseguem capturar o interesse do leitor.

Em poucas páginas, mesmo ainda perdida, não pude deixar de me emocionar com seus infortúnios.

O Deserto da Negação. Ou não.

Outro destaque da obra é o universo fictício multidimensional onde ela está inserida. As regras existentes são poucas, e ainda assim passíveis de serem contornadas. As leis que regem nosso universo são, em boa parte, sumariamente ignoradas. A sensação de estranheza causada por isso serve para reforçar o sentimento dos próprios personagens.

As localidades mais icônicas da trama estão espalhadas pelo espaço-tempo, e muitas delas são adimensionais. A Cidade Sem Nome, onde as almas vão em busca da chance de servir e alcançar redenção, o Deserto das Negações, deserto onde as memórias de vários outros lugares e outras vidas acabam parando, todas elas são espaços sem tempo e localidade definidas, cujas leis, se existentes, são obscuras ao leitor.

Atlas Ageográfico de Lugares Imaginados é um tomo que existe dentro da história, uma tentativa de compilar informações sobre esses locais ageográficos. Nesse sentido, o título serve perfeitamente ao romance, pois, por meio dele, descobrimos sobre a ageografia do universo de Ana Cristina, do ponto de vista dos três protagonistas da história; afinal de contas, a viagem sempre depende do viajante.

Nota da Autora: Sobre o lançamento, não tenho nenhuma informação, mas posto aqui assim que eu souber 🙂

Digue