Deixe As Estrelas Falarem é uma novela de ficção científica da autoria de Lady Sybylla (que encabeça também o site Momentum Saga) e publicada pela Dame Blanche. Nela, acompanhamos Rosa, capitã da nave de carga Amaterasu, em uma missão que vai muito além da sua função de transportadora de alimentos e mercadorias.
A ideia geral do enredo é bastante promissora, porém tenho algumas ressalvas em relação à sua execução. Como sempre, mantenho minha política de apenas postar sobre obras que acredito valerem a pena, então vamos aos pontos fortes da novela:
Lady Sybylla não se esqueceu da existência de 95% da cultura do globo terrestre, como é comum ocorrer na ficção científica, onde, frente ao universo, a humanidade assume uma unidade cultural homogênea e eurocêntrica. Os exemplos não são poucos de universos fictícios dentro do gênero onde culturas que não fossem a europeia ocidental são apagadas.
A homogeneidade, claro, é algo que tende a ocorrer devido à troca de informações, entretanto Lady Sybylla se atentou para o fato de que homogeneidade completa não existe e que, sim, as pessoas ainda terão apreço por sua cultura de origem, mesmo em um futuro ultra tecnológico.
A diversidade dos personagens principais reflete bem esse cuidado. Que, diga-se de passagem, não pareceu nem um pouco forçada: o passado de Rosa explica bem o que a levaria a reunir um grupo tão retalhado de pessoas, cada uma delas com uma história, vindas de um lugar diferente.
Como acontece em Quinta Estação, a tecnologia presente na obra foge do padrão tecnicista da maioria das obras de ficção científica e explora um viés mais biotecnológico, apesar de isto não estar bem claro, à princípio. Não nego que isto sempre me agrada.
As ressalvas que tenho em relação à novela são três: a (in)consistência da protagonista, Rosa, assim como a quantidade de exposição presente e o ritmo da narrativa.
Toda história carrega em si uma mensagem, mas a mensagem de Deixe As Estrelas Falarem acaba sendo meio que soletrada, e não exposta de uma maneira orgânica, que convide o leitor a chegar aos questionamentos desejados com as próprias pernas mentais. A moral da história é contada ao leitor, um pouco como as morais das fábulas infantis.
Isto acaba deixando a protagonista, Rosa, um pouco inconsistente. Ela era estivadora até ganhar sua nave em um jogo de pôquer. Certamente que sua função como transportadora a fez entrar em contato com todo tipo de gente e de conhecimento, mas nada que de fato justificasse a exposição da “moral da história” de maneira tão eloquente.
A pouca naturalidade de seu monólogo interno, considerando seu histórico, fez saltar ainda mais aos olhos o fato de que a ideia central da trama é esmiuçada, ao final.
E ambas as ressalvas me parecem terem sido causadas pelo ritmo da narrativa. A maior parte da obra foi dedicada à situação inicial da história, enquanto o enredo em si fica corrido, lá para o final; em consequência, boa parte dos acontecimentos e desenvolvimentos relevantes são contados ao leitor, ao invés de demonstrados pela narrativa.
Dito isto, Deixe As Estrelas Falarem é, sim, um bom exemplo do que a ficção científica nacional tem a oferecer. Os personagens são cativantes, e a questão moral apresentada pela novela, apesar de parecer distante devido à premissa da história, é, sim, bastante relevante. E o preço, ó, tá ótimo.