Feed – Blogueirinhos do Apocalipse Zumbi

Feed, escrito por Seanan MacGuire sob o pseudônimo Mira Grant, é o primeiro livro de uma trilogia, lançado em 2010, que, infelizmente, nunca chegou a ser publicado no Brasil (mas tem na Amazon). O que é uma pena, pois é uma das poucas obras de apocalipse zumbi que consegue ser suportável.

Primeiro porque, não existe de fato um apocalipse zumbi. Existem zumbis, mas a vida continua.

No universo de Feed, o apocalipse zumbi começou em 2014, quando um vírus lançado na atmosfera para curar a gripe – a gripe Kellis – e um segundo vírus utilizado no tratamento do vírus MarburgAmberlee Marburg – se mutam em um vírus só batizado de Kellis-Amberlee.

Os meios de comunicação tradicionais se tornaram pouco confiáveis durante a primeira onda, ocasionando o surgimento de uma rede de blogueiros que assumiram o papel dos jornalistas tradicionais de difundir as notícias imparcialmente.

Se existem zumbis, existe alguém querendo tirar selfie com um

Quase trinta anos depois, os zumbis e o vírus falharam em destruir a humanidade. Georgia e Shaun Mason, os protagonistas, são dois irmãos que trabalham juntos em uma espécie de blog, com uma carreira sólida, mas não necessariamente brilhante.

A chance de decolar aparece quando eles são selecionados para acompanhar a comitiva de um dos possíveis candidatos à Presidência dos Estados Unidos, o que os coloca no lugar errado, na hora errada: eles acabam se envolvendo em uma verdadeira conspiração em relação ao vírus Kellis-Amberlee.

A maior qualidade de Feed é o nível de detalhe da autora para com a ciência detrás dos zumbis e como a existência de uma infecção assim afetaria a condição humana em si. O vírus, na verdade, infectou todas as pessoas do globo, porém permanece dormente a não ser que a pessoa morra, ou entre em contato com o vírus ativo por meio de fluidos.

Georgia e Shaun, nascidos após a primeira onda de infecção, não se sentem tão confortáveis com contato físico, nem em espaços com muita gente. Onde tem gente, a qualquer momento pode ter zumbi. A autora também delineia as diferenças entre gerações, de quem já era adulto ou se lembra da época anterior ao vírus, e quem nasceu depois, como os protagonistas.

Outro ponto de destaque é a condição de Georgia; seus olhos são um reservatório de vírus ativos, e por isso ela não enxerga bem na luz, pode cegar com facilidade, precisa de óculos escuros e sente dores de cabeça constantes. Em outras palavras, ela é deficiente.

Isso é interessante em particular por oferecer uma versão de deficiência pouco abordada na ficção e mal compreendida no geral. Georgia vive uma vida bastante parecida com o “normal”, mas não sem limitações diárias, e precisa de acomodações rotineiras.

A narrativa passa de momentos mais mundanos à ação e o suspense em um ritmo agradável. É uma história de zumbi, afinal de contas. Por mais que os aspectos culturais e científicos do cenário sejam fascinantes, a tensão se mantém durante o enredo, passando às cenas de ação com miolos voando com facilidade.

Em suma, Feed é um thriller que tem de tudo, ação, mistério, suspense, reflexões sobre a condição humana, zumbis… Faltou só o sexo, realmente.

A falta de sexo é uma consequência natural do ponto mais fraco do livro, que é o relacionamento entre Georgia e Shaun. Eles são irmãos, e se amam muito. Um pouco demais, até. O relacionamento entre eles é extremamente codependente e calha de ser um elemento tão central no enredo quanto o próprio vírus Kellis-Amberlee. Eles querem permanecer juntos não importa o que ocorra, entretanto a leitura é mais agradável com eles separados. 

Por sorte, o enredo em si e os personagens secundários mais do que compensam, e carregam a história com louvor até o final.

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