Toda Literatura Tem Que Ser Representativa?

Não.

Essa resposta curta não tem palavras o suficiente para constituir um post, então permita-me elaborar: a falta de personagens não brancos, LGBT, e femininos é um reflexo claro da sociedade na qual estamos inseridos, onde esses grupos de pessoas são oprimidos simplesmente por serem quem são. E esse reflexo também alimenta o problema, pois a falta de personagens assim faz com que grande parte das pessoas não tenha contato com as experiências desses grupos.

Suprir essa falta, porém, é uma questão complicada, especialmente enquanto homens brancos, cis e heterossexuais são a maior porcentagem dos autores. Trazer representatividade para as suas obras é o tipo da coisa que não se deve fazer à contragosto, em especial sem pertencer à nenhuma minoria – ou sem pertencer à minoria em questão.

Não escrever personagens diversos piora a situação de uma maneira bem mais passiva que tentar escrevê-los e acabar se enganando enquanto à estereótipos, clichês e tropes nocivos, seja por engano ou pura má intenção.

Festa na piscina com autores

Para resolver esse problema, faz mais sentido apoiar a obra de autores para além dos brancos, cis e heterossexuais do que cobrar representatividade de quem nunca se importou nem teve convívio com essas questões. E tudo bem.

Não é porque está tudo bem que isso, de maneira sistêmica, não seja um problema, e que a falta de diversidade não seja um ponto fraco, algo a se ponderar sobre um autor. Isso deveria ser, sim, uma preocupação de todos os escritores e criadores de conteúdo, mesmo sem haver responsabilidade individual de resolver a questão.

A literatura é tão pouco diversa que, pelo simples fato de um livro ter apenas personagens brancos, cis e heterossexuais, a chance dos enredos e dos temas terem sido abordados à exaustão e inclusive de maneira bastante semelhante é grande. Todo autor tem algo diferente a dizer, mas, sinceramente, às vezes essa diferença é tão pequena, que eu enquanto leitora me sinto entediada pela repetição de temas, arcos e abordagens.

Talvez minha linha de raciocínio de considerar isso um ponto negativo ao invés de apenas a norma seja um pouco radical para alguns, entretanto o ponto em comum de ambas as filosofias é que ter diversidade (se bem executada) do elenco de personagens agrega à qualidade da obra, é algo digno de nota, algo a ser elogiado e encorajado e deveria ter sempre, se possível.

Ninguém tem que fazer isso; porém, os que o fazem merecem ser devidamente recompensados pelo esforço. O esforço de expor suas experiências pessoais através da literatura, de pesquisar, de encarar de frente os problemas que isso traz para uma possível publicação, de tentar melhorar a nossa sociedade e a nossa cultura de alguma forma, mesmo diante dos empecilhos.

Quem não faz isso, tudo bem. Porém, não há nada a ser parabenizado aí. É apenas o lugar comum.

E, sim, existe literatura representativa que não me agrada, e dentre os meus livros favoritos, estão alguns sem quase nada disso. Entretanto não se pode negar a facilidade com que as pessoas torcem o nariz para as obras mais diversas, enquanto as mais padrão nesse sentido, mesmo medíocres, são altamente elogiadas e tem maior volume de vendas.

A resposta longa para a pergunta é: não, mas bem que deveria.

Digue