Escrevendo Obras Longas Sem Querer Desistir De Tudo

Abro esse post com um aviso: não sou uma escritora aclamada (ainda), e esse é a minha esquematização pessoal na hora de escrever, então está longe de ser uma verdade absoluta, não que alguma coisa seja absoluta se tratando de escrita criativa.

Pretendo apenas expor maneira como eu enxergo a escrita de obras como contos mais extensos, noveletas e romances, cujo processo pode ser bem diferente da escrita de algo mais curto, e, de certa forma, muito mais desestimulador.

O Rascunho

Umas das concepções erradas que escritores iniciantes – e até os mais experientes – tem, é que só existe um rascunho. Para uma obra de, digamos, 17 mil palavras, eu acabo escrevendo bem mais, apenas porque leva cerca de uma, duas tentativas para finalizar um rascunho e decidir o enredo.

A parte de finalizar um rascunho é a mais difícil, pois envolve trabalhar e delimitar o conceito, o enredo e os personagens, onde antes as opções eram virtualmente infinitas. Ter as ideias, escolher as melhores, e fechar num pacotinho mais ou menos coerente dá trabalho, leva tempo, e, às vezes, várias tentativas. Nessa fase, é bom não pensar tanto na qualidade da escrita em si. O foco é entender a história a ser contada.

A Caça às Incoerências

Manter vários projetos pode ser benéfico na hora de dar uma pausa de um projeto em específico

Finalizado o rascunho, é legal dar uma pausa para refrescar os olhos e as ideias. Depois disso, é hora da releitura, buscando furos no enredo, perguntas mal respondidas, cenas que precisam ser adicionadas, cortadas ou reescritas, problemas de continuidade, esse tipo de questão maior e estrutural, por assim dizer.

 

Se você tiver sorte, dá para aproveitar a maior parte do rascunho final. Às vezes, descobre-se um furo no enredo muito grande, e deve-se retornar à fase de rascunho. É importante respeitar o tempo da história, deixar as ideias maturarem e não ter medo de jogar ideias fora e reescrever trechos grandes.

Polimento

O rascunho está completo e coerente. Agora, sim, é hora de se preocupar com a forma. Eu percebo que a qualidade da minha escrita aumenta conforme o conceito da história fica mais claro na minha mente, mas, mesmo assim, é necessário ler tudo mais uma vez e ir mudando a “mobília” da história. Mexer nas frases em si para eliminar esquisitices ou cacofonias, melhorar a forma de expor descrições, diálogos e afins.

Nessa releitura, eu também anoto pequenos erros recorrentes, tipo repetições de construções sintáticas, advérbios de modo, etc (por exemplo, uma repetição muito comum nos meus textos é o “mas”, “havia”, “tinha”, frases de antítese em geral).

Revisão

Depois de muita dor, sofrimento, lágrimas e sangue derramado em sacrifício aos deuses corrompidos da criatividade, a etapa da revisão é a final. O objetivo é eliminar repetições, erros gramaticais e ortográficos.

E feito tudo isso, tá pronto?

Ainda não. Um escritor não faz nada sozinho. Dependendo para o que seja o texto, ele deve ser submetido ao menos a uma leitura beta. É mais difícil para o escritor editar e revisar sua própria criação, embora seja necessário que ele faça o mínimo de limpeza para não tornar trabalhosa a leitura para um leitor beta, um editor, o que seja.

Dói, mas é bom perceber quando se está escrevendo feito um idiota. Ainda não dominei a técnica.

O programa editor de texto, dependendo de quão boa seja sua correção automática, já ajuda bastante, e realizar leituras beta e revisões textuais para outros autores é bom para trabalhar a habilidade de discernir os problemas no seu próprio texto.

Dependendo, também, de qual o resultado do feedback recebido, talvez seja necessário voltar à fase do rascunho. Como já dito, o processo da escrita é não-linear, e não ter preguiça de voltar atrás é essencial para que o resultado seja o melhor possível.

Às vezes acontece de o primeiro rascunho já ser o rascunho final, as incoerências serem pequenas, e o texto não precisar de tanto polimento assim, mas isso é bastante raro e, em geral, resultado de muita prática criativa e literária. Não é realista esperar por isso.

Em suma, ter bom discernimento da qualidade do próprio texto – ou seja, saber dizer quando ele não está bom ainda –, ter paciência, persistência, não tentar fazer tudo de uma vez só e dar pausas são fundamentais para escrever obras extensas sem ter (muita) vontade de jogar tudo para o alto.

Nota da Autora: As ferramentas certas também podem ajudar. Eu fiz um post sobre as ferramentas gratuitas que utilizo para planejar e escrever.

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